quarta-feira, 27 de julho de 2016

Cego de amor?

As histórias infantis, os contos de fadas, as fábulas trazem consigo a ideia de RECIPROCIDADE, e de que o amor só será amor quando compartilhado. Nada de errado até aí, o problema é que essas histórias pulam etapas: elas não falam da paixão, e é aí que confundimos as nossas relações e acabamos também pulando etapas.
Sabemos que o amor corresponde a uma troca de afetividade, e que ocorre sempre no aqui-e-agora, entendendo as nossas limitações e as do outro e sendo empático.
Entretanto, ao embarcarmos numa relação, o primeiro sentimento que surge é a paixão. O amor faz parte da próxima etapa. Bem, a paixão faz com que enxerguemos no outro aspectos que gostaríamos de ter em nós mesmos, fazendo com que supervalorizemos o objeto de desejo. Ou seja, diminuímos o nosso ego em prol de um enaltecimento do ego do outro. Casos de submissão se aplicam nos casos em que a paixão se transforma em obsessão, quando o senso de self pessoal se anula perante a força que foi dada ao ego do outro. Mas bem, isso é tema para uma outra postagem.

Diante da paixão ficamos completamente envolvidos. No livro: "O carrasco do amor", o Dr. Irvin Yalom, relata a fala de uma paciente ao explicar como se sentia diante da pessoa amada: "Era uma experiência extracorpórea. Eu não tinha peso. Era como se eu não estivesse lá, ou pelo menos a parte de mim que me fere e me empurra para baixo. Eu simplesmente parava de pensar e de me preocupar comigo. Eu me tornava um nós." 

A partir desse sentimento forte e avassalador, diversas ilusões se criam. Porém, como as ilusões ocorrem de forma inconsciente (a partir da própria história de vida e dos traumas pessoais), a pessoa apaixonada não percebe a realidade. Para ela a mágica é real.

Porém quando o objeto de desejo se afasta ou corta a relação, acaba por devolver a pessoa apaixonada à realidade. E esta, confusa com o que aconteceu e inconformada com o fim do encantamento, não aceita a realidade. Nestas situações, algumas pessoas relatam: "Mas eu sabia que era RECÍPROCO!", ou, "Eu sentia que ele também me amava, como pode acontecer isso?".

É que quando nos envolvemos numa paixão acabamos projetando os nossos sentimentos no outro, como se a nossa experiência fosse vivenciada por ele da mesma forma. Os contos de fadas estavam certos, o AMOR só existe quando é compartilhado, porém a paixão não. Ela geralmente trai as nossas expectativas porque cada um possui a sua individualidade, seus medos e seus desejos, e irá projetar e ou transferir para outro o que deseja para si. Por isso sofremos: nos inconformamos porque temos a convicção de que o outro também estava envolvido. É comum nessas situações, diante de um ego fragilizado e de um padrão existencial de culpa, questionarmos onde erramos, porque não fomos "melhores"...

Algumas pessoas vivem durante anos sofrendo por uma paixão, por uma relação que acabou. E justificando que um dia elas se encontrarão novamente para vivenciarem o seu amor.

Contudo, o Dr. Irvin Yalom ao dialogar com a sua paciente apaixonada, reflete: "Se duas pessoas compartilham um momento ou um sentimento, se ambas sentem a mesma coisa, eu consigo admitir que seria possível que elas, enquanto estivessem vivas, restabelecessem o sentimento precioso existente. Esse seria um ato delicado, afinal, as pessoas mudam, e o amor jamais se perpetua, porém ainda, quem sabe, no terreno da possibilidade. Elas poderiam se comunicar de um modo pleno, poderiam tentar alcançar um relacionamento autêntico e profundo que, dado que o amor verdadeiro é um estado absoluto, deveria aproximá-las do que tiveram um dia".  "(...) Você não pode recriar um estado de amor romântico compartilhado, com os dois profundamente apaixonados um pelo outro, porque, para começar, isso nunca existiu."

Ás vezes é extremamente cruel enxergar a realidade, é doloroso assumir o caminho que se conduziu a vida devido a uma falsa crença, ou a uma ilusão. Mas podemos reelaborar essas situações e os sentimentos presentes nelas e assim evitar entrar em novos ciclos que nos levam aos mesmos caminhos. Tudo bem que verdades nem sempre são boas de serem enxergadas, mas a verdade é sempre melhor que a mentira mesmo que seja mais difícil conviver com ela.


Leitura recomendada: O carrasco do amor, de Irvin D. Yalom.

domingo, 24 de julho de 2016

Deixou A desejar ou deixou DE desejar?

🔵Eu sei que a gente aprendeu desde crianças a sermos bons para os outros, que nos ensinaram a fazer sempre o melhor que pudermos para satisfazer as pessoas, que nos disseram que é feio contrariar autoridades...

➡Mas sei também que esse tipo de educação costuma originar indivíduos que negam a sua própria existência em benefício do outro. Pessoas que por quererem satisfazer tanto quem está perto acabam esquecendo das suas próprias vontades, não escutam os seus desejos. E que se tornam duras consigo quando o outro diz que ela "deixou a desejar", que não correspondeu às expectativas, pessoas que se cobram, não se perdoam e que duvidam do que sentem...

❌Inúmeras são as neuroses originadas por essa educação que negligencia a própria vida.❌

➡Então quando alguém  disser que você "deixou a desejar", mude a preposição da frase, entenda que sim você deixou DE desejar para beneficia-lo, e entenda que cabe ao outro lidar com as frustrações das próprias expectativas pois elas são da responsabilidade dele.

💡Tão importante quanto saber a hora de ajudar alguém, é saber a hora de se ajudar.



domingo, 10 de julho de 2016

O cavaleiro preso na armadura

A gente tem o costume de fazer um esforço gigante pra mostrar a nossa melhor versão. ↘↘↘
E às vezes nem se dá conta que aquela dor nas costas pode ser resultado do peso de ser sempre muito bom (nos curvamos diante do outro); que aquela dor no estômago é reflexo de "engolir sapos", aguentamos tudo porque afinal, somos bonzinhos... 🙇🙇🙇
É que crescemos acreditando que a nossa real expressão não é adequada ao meio social e aí bloqueamos toda e qualquer forma de espontaneidade. Desenvolvemos armaduras e passamos a ser rígidos conosco, e extremamente bons com os outros. 🙅🙅🙅 A verdade é que o esforço que fazemos para sermos aceitos é tão prejudicial que acabamos desempenhando papéis. Costumo dizer que nos tornamos personagens dentro da própria história de vida. E é comum que alguém se apaixone por essa pessoa tão boazinha, e se um dia o ser bonzinho cansar da submissão e mostrar a sua real face, decepcionará ao outro e a si uma vez que achou que a armadura era a sua melhor imagem. 💡💡💡A pergunta é: Você está tentando ser bom para quem? 🌟🌟🌟Seja saudável para si, se aceite e você não sentirá mais a necessidade de representar papeis para quem não aceita a sua verdadeira essência.


domingo, 3 de julho de 2016

Por que adoeço?

"João é tão duro consigo", "Ana é muito perfeccionista, adoece se algo sai do seu controle", "Paulo não sabe dizer 'não', teme mostrar o que sente e quer", "Cíntia só vive pro trabalho e está sempre insatisfeita"...

É tão comum fazermos esses tipos de análises, e embora caracterizem análises superficiais, podem indicar uma disfunção dos comportamentos humanos. E bem, do nosso também pois nosso julgamento também indica que não conseguimos ser empáticos e nos colocar no lugar do outro.
Mas o que são comportamentos disfuncionais? Existe uma regra saudável para se viver?

Segundo Lowen (1977), o instinto pode ser descrito como um ato impulsivo que em nenhum momento foi modificado pela aprendizagem e nem pela experiência, contudo, devido aos condicionamentos culturais e pelas exigências culturais, poucos são esses atos que ainda persistem na vida adulta.
Então podemos entender que os atos instintivos são puros, livres de qualquer regra moral e de qualquer condicionamento pautado em valores capitalistas, e em princípios aquém da essência humana.

Assim fica claro compreender o porque dos nossos comportamentos disfuncionais: como somos condicionados  a seguir padrões e regras sociais e culturais desde que nascemos, aprendemos que nossos sentimentos não são saudáveis, e que devemos bloquear os nossos instintos para sermos civilizados e adestrados.
Contudo, quando bloqueamos a nossa verdadeira pulsão, racionalizamos a vida e justificamos todos os nossos atos até chegarmos em um ponto que não saberemos mais o que sentimos e somente a nossa mente adestrada e limitada regerá nossas ações.

É por isso que o João é tão duro consigo, que a Ana é tão perfeccionista e controladora, que o Paulo não consegue expressar seus desejos, que a Cíntia é uma workholic e carrega em si um vazio gigante. Porque todos eles não se escutam, não reconhecem mais o verdadeiro EU. Aprenderam tanto a serem "bons para os outros" que esqueceram de serem bons para si.

Ok! Mas como podemos modificar isso?
                                                 
É necessário querer mudar! É fundamental reconhecer que esse condicionamento, embora em algumas áreas traga "sucesso", na área sentimental ele implica em retrocesso. É importante também se permitir sentir (algumas pessoas de tão condicionadas não conseguem mais), e nesses casos também o psicólogo clínico pode auxiliar.
É vital que troquemos o "tenho que fazer" pelo "quero fazer", que João compreenda porque exige tanto de si, que Ana perceba porque tem medo de perder o controle, que Paulo identifique a origem da sua autonegação, que Cíntia elabore o porque da sua fuga de sentimentos uma vez que tenta se preencher com conteúdos racionais ao invés de relações.

Pois, segundo Reich, se a nossa auto percepção aumentar com certeza nos tornaremos pessoas com caráteres mais maduros e saudáveis.

O que você sente?


Você já deve ter conhecido alguém que aparentava não sofrer. Vivia sorrindo, pra tudo encontrava um método prático. Alguém que não se envolvia, justificava dizendo que não precisava daquilo, que era independente demais, "descolado".

Talvez o que essa pessoa não sabia é que existem mecanismos de defesa que funcionam inconscientemente para evitar que o ego entre em contato com algum conflito doloroso. ⁉Qual a relação disso tudo?


⚠É que às vezes àquela pessoa que sorri para tudo, que encontra uma forma prática e apática de lidar com conteúdos emocionais, pode estar mascarando um sofrimento, ou, fugindo dele através de uma aparente felicidade. E pode estar tão envolvida na situação que para evitar um colapso desenvolve defesas que bloqueiam os seus sentimentos. Assim demonstra sempre que está tudo bem. Mas a apatia e o peso dos problemas denunciam a necessidade de receber ajuda. >>É importante se escutar, saber o que sente, qual a intensidade do sofrimento, e o porquê de mascara-lo. Assim é possível procurar auxílio psicológico e elaborar o conteúdo que causa sofrimento, tornando-se saudável. 


Por isso, assuma os seus sentimentos e procure ajuda quando não conseguir compreende-los e transforma-los em resiliência.