segunda-feira, 31 de outubro de 2016

Adultos mimados?

Na prática clínica, se observa com frequência, a crescente dificuldade das pessoas lidarem com o adiamento do seu prazer, ou, em terem que abdicar deles em situações específicas.
Esse fato é constatado a partir de falas que revelam a crença individual de que “se não é como eu quero então não me serve”, e que geralmente são acompanhadas de sentimentos de raiva e tristeza, e de comportamentos ora de indignação, ora de desprezo com aquilo que não corresponde ao que se queria.
Estes comportamentos podem ocorrer de forma velada, onde o indivíduo acaba não percebendo que está escolhendo a sua vida a partir de um critério rígido de prazer devido o desejo de vivenciar uma euforia constante. Ás vezes se revela através de um conflito sutil na relação, onde um dos parceiros não aceita a possibilidade de abdicar de algo que quer em prol de um desejo do outro, pode se revelar também na tendência em delegar funções para alguém para evitar resolver o conflito, no consumo exagerado, no comodismo em não acordar alguns minutos mais cedo para fazer um exercício físico, em não aceitar regras, em brigar para obter o tão almejado “sim”.
Todas estas atitudes expressam a dificuldade de se lidar com limites, demarca os prejuízos trazidos pelo imediatismo, a confusão dos conceitos de amor próprio e egoísmo/individualidade e individualismo, e a dificuldade de se compreender as distinções de felicidade e euforia.
Mas por que agimos assim?
Segundo Freud, as neuroses surgem quando o indivíduo se afasta da realidade. “Os neuróticos afastam-se da realidade por achá-la insuportável – seja no todo ou em parte”. E assim vivenciam o Princípio do prazer-desprazer, onde o propósito é obter prazer constante e se afastar de tudo aquilo que cause desprazer. Quando a vida é regida pelo Princípio do prazer-desprazer, ocorre um distanciamento da realidade e por isso surge a dificuldade de lidar com o que “eu quero” e com o que “eu posso”, pois, o desejo é incompatível com o que a realidade oferece, deste modo surgem as frustrações, a irritabilidade, o descaso, a agressividade.
Então como podemos lidar com isso?
É necessário identificar o porque de se querer constantemente obter prazer, qual a origem deste desejo e quais sentimentos o amparam. A avaliação das prioridades e das consequências das escolhas também funcionam como métodos para identificar o que estamos escolhendo: obter prazer momentâneo ou conquistar uma satisfação duradoura.
Para sabermos as nossas prioridades e se estamos conscientes sobre as consequências das nossas escolhas é válido questionarmos: “O que é mais importante para mim?” Por exemplo: “acordar tarde ao invés de ir para a academia, e como consequência ter mais horas de sono e sentir o meu corpo mais cansado, ou, acordar cedo e ir para a academia e como consequência ter menos horas de sono e sentir o meu corpo mais ativo?”. Através deste questionamento conseguimos perceber que não existem somente prazeres, e que estar em contato com a realidade implica em abdicar de alguns prazeres em prol de outros.
É fundamental também desconstruir crenças negativas que fortalecem a fuga da realidade para então elaborar os sentimentos disfuncionais. A partir destas atitudes, é possível encontrar formas de alterar a realidade (dentro do que é possível) para então se obter satisfação.
Caso você perceba que não está conseguindo tolerar as frustrações, procure auxílio psicológico. Saiba que somente um ego bem estruturado é capaz de lidar com as frustrações, e que uma vida saudável consiste em encontrar o equilíbrio entre a dor e o prazer

quarta-feira, 19 de outubro de 2016

Será que ele (a) me ama?

"Você sabe que é amado porque lhe disseram isso, as três palavrinhas mágicas. Mas saber-se amado é uma coisa, sentir-se amado é outra, uma diferença de milhas, um espaço enorme para a angústia instalar-se." 

Inicio este artigo com a parte de uma crônica escrita por Martha Medeiros, onde a escritora sensivelmente e sem perder a coerência racional, assume que existe uma diferença entre ser informado sobre ser amado e entre sentir-se de fato amado.

É importante compreendermos primeiramente o que significa amar. O amor possui um significado amplo, cada cultura (sociedade, período histórico, educação) experimenta de uma forma particular este sentimento. E toda sociedade é construída por indivíduos que possuem sua subjetividade, seus traumas, conflitos, seus desejos, suas necessidades. Por isso o conceito de amor é tão particular, e é sentido e expresso de maneiras diferentes.

Porém há pessoas que diante de um relacionamento, não conseguem reconhecer o amor do parceiro para consigo. E se queixam constantemente de não serem amadas, de não se sentirem amadas. Com isso, desenvolvem comportamentos incompatíveis com a relação, fruto da insegurança e do sentimento de raiva e ou de frustração por não receberem o amor que tanto almejam.

Perante a insatisfação amorosa, pergunto a alguns pacientes:
>>>Como é o amor que você deseja receber?<<<

A partir da resposta verificamos juntos quais as características deste amor: se ele é real ou idealizado, se é baseado em um amor infantil, se ele é romântico, dependente, ou maduro...


  • Em algumas situações é necessário desconstruir as fantasias, para isso juntos compreendemos o porque de te-las criado e como podemos elaborar o trauma para então entrar em contato com a realidade e transforma-la (para não reproduzir novamente o ciclo irreal).
  • Também precisamos identificar o tipo de amor recebido na infância e como ele foi compreendido pela criança (algumas pessoas imaginam que o cônjuge deve desempenhar o mesmo papel do pai e da mãe...).
  • É essencial verificarmos de que modo o parceiro foi informado de que existe uma insatisfação na relação vivenciada pela outra parte (algumas pessoas esperam que o outro adivinhe o seu descontentamento ao invés de informa-lo).
  • A partir desses eixos é possível "filtrar" o sentimento de amor baseado na realidade e tomar as medidas adequadas para busca-lo (saber se o parceiro quer ajustar algumas demonstrações de afeto, se é possível fazer uma troca nas mudanças ou expressões do amor, como é possível auxiliar o parceiro caso ele não saiba como começar...).
A partir do momento que nos conhecemos melhor, conseguimos identificar o que queremos, por que queremos e o que faremos para conquistar este nosso desejo. Assim conseguimos também, expressar para o outro, de forma clara, objetiva, sensível e empática o que desejamos. Lembrando sempre que o outro pode ter o direito de não querer se ajustar à relação ou às necessidades alheias, e que diante disso poderemos escolher satisfazer essas necessidades de outra forma, reconfigura-las, nega-las... Porém, quando sabemos o que realmente queremos, automaticamente já definimos o que não queremos. A empatia (colocar-se no lugar do outro) é sempre um excelente meio para identificar as limitações alheias, diminuir expectativas e buscar no lugar certo aquilo que queremos. Por isso, ao entrar em uma relação, identifique o que você busca nela e quais as suas expectativas, e coloque para o seu parceiro essas observações.  

Lembre-se: Não é culpa da laranjeira a sua expectativa de que ela dê maracujás. Somente você tem responsabilidade pelas expectativas que cria. E uma excelente forma de diminuir as expectativas e portanto, as frustrações, é enxergando a realidade e sendo sempre sincero consigo e com o outro.

segunda-feira, 17 de outubro de 2016

Agora eu tô solteiro e ninguém vai me segurar!

Beber até ficar "no brilho", gastar todo o salário do mês nas baladas, "pegar" o maior número de pessoas... Algum destes "programas" é familiar para você? Se a resposta for sim, talvez você faça parte do grupo de pessoas que defende com unhas e dentes o status de desapegado.

A cultura do desapego está em evidência, e podemos pensar que um dos fatores para o surgimento deste modelo cultural se deve ao radicalismo contra o romantismo. Se em um momento da história se estimulavam o relacionamento conjugal devido a este ser uma convenção social e sinal de cumprimento às regras religiosas, hoje percebemos um radicalismo em relação à evitar relacionamentos e desenvolver o individualismo. Ou seja, parece que se percebeu que é possível ir contra os papéis sociais ao negar as relações por dependência (financeira, afetiva social...), contudo, se deturpou o conceito de liberdade, transformando a individualidade em individualismo.

Percebemos esta deturpação nas mídias sociais, em que aquele que demora para responder a uma mensagem é valorizado, ao contrário daquele que se mostra sempre disponível, este é considerado "fácil" e portanto, com menos valor. Este comportamento individualista também é percebido nas relações onde um parceiro omite os seus sentimentos de amor em relação ao outro escondendo o que sente para ser percebido como desapegado. É assim que se estabelecem os jogos de poder nas relações, em que sinceridade e espontaneidade são itens totalmente dispensados, e que dão lugar à manipulação e à representação de papéis disfuncionais como garantia de que o parceiro irá continuar ali.

Por que algumas pessoas vivenciam a cultura deturpada do desapego? Podemos elencar alguns fatores:
<> Dificuldade de expressar os sentimentos (alexitimia).
<> Medo de se sentir abandonado (a) por isso evita-se relacionar-se.
<> Crenças equivocadas sobre os relacionamentos obtidas através de modelos familiares disfuncionais,
<>Dificuldade de lidar com responsabilidades e compromissos,
<> Medo de abdicar do seu "conforto",
<> Tendência em querer obter prazer a todo momento,
<> Falta de empatia.

É importante compreender que cada um destes fatores possuirá uma origem individual, ou seja, é necessário analisar a história particular de cada indivíduo para compreender os mecanismos que o levaram a se fechar para os relacionamentos e desenvolver a armadura de desapegado dos sentimentos e dos vínculos afetivos.


Quais as consequências da cultura do desapego?
*Um passo importante a ser tomado é perceber os ganhos secundários por trás do comportamento desapegado. Se a proposta do desapego é obter prazeres e viver sozinho, podemos imaginar que os ganhos da manutenção deste papel envolvem diversão e individualismo.
*Outro fator a ser observado é que por trás de toda escolha existe uma renúncia: quando escolhemos ter somente prazer, abdicamos das responsabilidades. E essas possuem um componente muito importante mas que é pouco enfatizado: o sentimento de utilidade. Quando somos responsáveis e comprometidos com algo ou com alguém, nos sentimos importantes e úteis e fazemos contato com algo que realmente nos preenche, percebemos que nos preenchemos de forma adulta e deixamos de lado a insatisfação infantil de querer a todo momento algo mais interessante ou mais prazeroso.
*Quando escolhemos viver sozinhos em prol da teoria do desapego, abdicamos dos ganhos que uma relação pode oferecer. Deixamos de conhecer alguém profundamente e estabelecemos apenas um contato superficial, nisso existe uma tendência à rotatividade de pessoas e evita-se o envolvimento. Ao nos relacionarmos visando apenas o prazer momentâneo, sabemos que existirá uma limitação. Quando o prazer for obtido, "crescerá" novamente a insatisfação e o desejo de obter prazer novamente, e quando este prazer não for conquistado, o indivíduo poderá entrar em contato com algo que ele tanto evita: o sentimento de solidão.


Como podemos afrouxar a armadura do desapegado?
*Primeiramente é necessário entrar em contato com a realidade e perceber quais prejuízos individuais a manutenção deste status tem trazido para a sua vida.
*Também é importante identificar qual a origem do desenvolvimento desta armadura: em que momento aconteceu e para protegê-lo de que.
*Concomitantemente é fundamental analisar as crenças que o limitam a se relacionar e elaborá-las afim de modificar os comportamentos causados por elas.
*Entrar em contato com os próprios sentimentos ao invés de fugir deles também é primordial para modificar os comportamentos que o aprisionam a ser um desapegado disfuncional.


O psicólogo é o profissional adequado para lhe ajudar a compreender os motivos que originaram as suas crenças, os seus sentimentos e os seus comportamentos. Ao perceber que você está fugindo das responsabilidades e dos compromissos, que tem desejado ter somente prazeres a todo momento, que você tem medo de se relacionar e ou que não consegue expressar os seus sentimentos, procure auxílio psicológico. O autoconhecimento é a solução para a desconstrução das suas armaduras.


É que homem é assim mesmo...

Hoje quero conversar sobre os estereótipos de gênero. O documentário: "The mask you live in" retrata a forma como os meninos são educados e como esta educação pautada na diferença de papéis de acordo com o gênero influencia negativamente na estruturação de personalidades.

Os papéis polarizados em relação ao masculino e ao feminino limitam as potencialidades de cada indivíduo. Desde que nossos pais tomam conhecimento da gestação, iniciam o processo de construção das nossas identidades. Utilizam da cultura para isto, porém geralmente não se questionam do porquê de suas escolhas com relação as cores das roupas, aos modelos de brinquedos, e principalmente, à educação diferenciada que darão aos filhos devido ao gênero que irão pertencer. Eles "somente" reproduzirem os modelos que já existem.

As limitações de papéis de gênero são várias, mas em relação ao masculino, encontramos vários "nãos":

*Não pode chorar ou demonstrar sensibilidade,
*Não pode pedir ajuda,
*Não pode ser dominado pelas mulheres,
*Não pode não conseguir.

E para cada "não" existe um "tem que":

*Tem que ser forte,

*Tem que ser frio, manter distanciamento emocional,
*Tem que dominar as mulheres,
*Tem que conseguir (sucesso profissional, mulheres, dinheiro, status...).

Parecem radicais ou ultrapassados esses estereótipos? Então perceba o contexto de violência, e analise que gênero está entre o maior responsável por assassinatos, que gênero utiliza mais drogas lícitas e ilícitas, que gênero é responsável pelo maior número de evasão escolar. Perceba também a discrepância nos números de homens e de mulheres com cargos a nível de gerência.
Os homens, por possuírem a responsabilidade de fazerem valer o estereótipo de masculino, acabam limitando as suas potencialidades e desenvolvendo máscaras sociais.

>>>Quando o pai fala para o seu filho que homem não chora, que homem precisa ser forte e trabalhar desde cedo para manter a casa, que homem não pode levar desaforo para casa, que precisa bater para ser respeitado, esse pai ou este modelo de educação acaba reforçando que a criança é inadequada e que precisa desenvolver essas "habilidades masculinas" para ser amado ou aceito enquanto homem pelo pai e pela sociedade. <<< É neste sentido que a violência se instala, e que a personalidade se molda nas expectativas de gênero. Logo, tudo aquilo que não é considerado masculino passa a ser visto como feminino, e obviamente, rejeitado. É assim também que surgem os preconceitos com relação à homoafetividade, pois se ser homem significa ser "frio" e "pegar" várias mulheres, logo àquele homem que se mostra emotivo e que não objetifica as mulheres passa a ser considerado afeminado ou homossexual, alvo de inúmeras injustiças.

Pensar na neutralidade de um sujeito quanto à sua identidade sexual e de gênero é considerar a utopia que está além da equidade de gênero. Então, antes de se pretender resgatar a espontaneidade de cada sujeito, é importante discutir o porquê a sociedade faz necessária a classificação de comportamentos e sentimentos diferentes de homens e de mulheres. Deve-se refletir sobre a liberdade individual em se escolher, independente do que a sociedade apresenta, pois, ontologicamente, não existe uma essência humana.
O objetivo dessa mudança social, mas que, sobretudo, inicia com uma implicação individual, é permitir a reflexão sobre os papéis de gênero e, sobretudo, desejar que os indivíduos, independente do seu sexo, se tornem quem desejam ser. E ainda, conforme apresenta Castañeda (2006, p. 24), "o inimigo a ser vencido não é a masculinidade, mas uma certa definição de masculinidade e, portanto, de feminilidade, que é a base do machismo".  Assim, como escreveu Doroth Parker (apud BEAUVOIR, 1970, p. 8), "minha ideia é que todos, homens e mulheres, o que quer que sejamos, devemos ser considerados humanos".  Refletir sobre os padrões sociais torna-se importante para rever a origem de atitudes negativas a partir deles e também as implicações da reprodução de tais padrões. Discutir sobre as estereotipias de gênero traz um desconforto devido ao tempo em que elas são reproduzidas e à forma com que estão arraigadas no discurso. Contudo, discutir e refletir sobre o assunto ajuda a problematizar quais comportamentos são importantes adotar para modifica-los e, possivelmente, erradicar os pré-conceitos sobre homens e mulheres, permitindo a todos uma vida de maiores possibilidades de ser. 

Portanto perceba se os seus sentimentos de inadequação são originados através crenças limitadoras, e busque alternativas para se experimentar fora dos padrões "estabelecidos". É provável que haverá sofrimento em ambas as escolhas: sofre-se por reproduzir algo que não é espontâneo, e sofre-se por abdicar desses comportamentos e deixar talvez de agradar a quem os estruturou. Porém, nas duas situações é fundamental se questionar sobre qual papel você está desempenhando na sua vida e se ele está condizente com o que você almeja para si.

Um psicólogo pode te ajudar a identificar esses papéis. Procure ajuda, faça isso por si. Invista na sua felicidade.


(Os grifos em itálico fazem parte da monografia: As implicações do sexismo benévolo na afirmação de estereótipos femininos, de autoria de Jéssica Horácio de Souza).

domingo, 16 de outubro de 2016

Mas eu me mordo de ciúmes!

Você já parou para analisar como é a sua relação com o ciúme?

Na infância algumas crianças tem medo de perder os brinquedos e por isso em algumas situações acabam não dividindo ou emprestando para o irmão ou para o colega. Na adolescência começam a cuidar melhor dos seus pertences (maquiagens, videogame, roupas...) com medo de que eles sumam ou estraguem. E quando iniciam os relacionamentos com parceiros, entram em contato novamente com o sentimento de posse/medo/insegurança. Sabe o que todas essas situações tem em comum? O medo de perder o objeto de desejo e entrar em contato com o sentimento do abandono.

Porém às vezes o motivo por trás do ciúme é inconsciente, ou seja, o indivíduo não compreende os seus medos e acaba assumindo um comportamento controlador em relação ao parceiro. Você já deve ter conhecido relações em que um dos parceiros estabelece onde o outro "pode" ir, segue a namorada, invade a privacidade do outro através das redes sociais... E quando questionado (a), justifica as suas atitudes dizendo que faz isso porque "hoje em dia não dá para confiar", ou: "faço isso porque ele (a) já foi infiel comigo", e ainda: "não quero ser feito (a) de bobo (a)".


É importante compreendermos que o ciúme é um componente natural das relações, sejam elas estabelecidas entre indivíduos ou entre indivíduo - objeto. O que Freud nos mostra é que existem graus e tipos diferentes de ciúmes, em todos eles o que predomina é uma disputa imaginária sobre o objeto de amor (aqui a palavra objeto se refere a algo ou alguém em quem depositamos as nossas idealizações e paixões).
O indivíduo sente que precisa do outro para se sentir completo, e então estabelece uma relação de dependência com o parceiro. Deste modo teme perder a sua "fonte de vida" pois acredita que sem essa "fonte" não "existirá". Como consequência disso pode ocorrer uma disputa de egos onde o indivíduo tenta competir direta ou indiretamente com a sua ameaça, pois sente-se inseguro em relação à si julgando que poderá ser substituído por "algo melhor".  O ciúme pode ocorrer também como uma projeção paranóide em que por desejar ter outras relações, o indivíduo desconfia do seu parceiro julgando que ele também possui este desejo.

Toda relação que se estabelece por dependência considera que existe a necessidade de um satisfazer as necessidades do outro. E é através deste formato de relacionamento que se instaura o ciúme patológico (onde não há o controle das ações motivadas pelo medo da perda e do abandono).


>>>Mas por que desenvolvemos este medo?<<<
Cada etapa do desenvolvimento infantil possui características específicas. De forma simplificada, para o bebê nos seus primeiros meses de vida quem desempenhará o papel de seu primeiro amor será a mãe ou a figura cuidadora. Logo ele compreenderá que todas as suas necessidades serão satisfeitas por esta figura. Contudo, ao perceber que a mãe por exemplo, divide a sua atenção com o pai e ou com o irmão, a criança se sentirá "trocada" ou "substituída". A forma como a criança irá lidar com este sentimento dependerá de como será conduzida a educação dela. Ela poderá se tornar competitiva, poderá sentir raiva ao entrar em contato com situações em que é substituída ou em que perde, poderá se tornar insegura e com medo de arriscar e por isso ficar sempre na zona de conforto, poderá se tornar dependente de algo ou de alguém, e como núcleo de todos estes fatores poderá desenvolver o ciúme patológico, uma vez que ele se desenvolve como uma forma de se proteger do medo de entrar em contato com o sentimento de abandono e de perda do objeto amado.

>>>Como podemos lidar com o ciúme patológico?<<<
Antes de qualquer protocolo clínico, é fundamental que o indivíduo reconheça em seus comportamentos algumas atitudes que o limita a se relacionar de forma saudável. Para isso podemos analisar os discursos dos nossos parceiros com relação ao modo como estamos nos posicionando na relação, podemos identificar os sentimentos presentes em uma situação em que não temos controle sobre ela. É fundamental também que busquemos auxílio psicológico para compreendermos a origem do nosso ciúme, de que forma o expressamos, e as medidas que podemos tomar para eliminar o conflito por trás dele.

Porém algumas dicas são válidas, gosto de perguntar aos meus pacientes: Qual a evidência que você tem de que este seu pensamento (fui/sou/serei traída (o)) é real? Quando nos posicionamos na realidade percebemos se os nossos pensamentos são reais ou se eles estão contaminados de crenças negativas e disfuncionais, acabando por desorganizar os nossos sentimentos e limitar as nossas ações.

Quando temos somente um foco na nossa vida, a tendência é que tenhamos muito medo de perder este foco, afinal, é ele quem dá significado à nossa vida. Desta forma ficamos extremamente inseguros e com medo de perdê-lo e com isso "sufocamos" o (a) parceiro (a). Portanto, perceba porque você tem colocado o seu relacionamento na posição em que ele está, reavalie se eles está antes ou depois de você. A partir disso, ajuste as prioridades e amplie as possibilidades de ser feliz.

"A vida começa onde termina o medo." - Osho.


quarta-feira, 5 de outubro de 2016

"Eu não consigo confiar!"

A subjetividade humana permite que cada indivíduo tenha uma resposta única para situações comuns à vários outros indivíduos. Logo, não existe uma causa geral para compreender todos os comportamentos, pois cada um terá uma resposta diferente que vai depender da história de vida do indivíduo, da sua educação, dos seus sentimentos, dos seus conflitos infantis...

A confiança por exemplo, para alguns ela é facilmente estabelecida em uma relação, já para outros ela é um desafio para o desenvolvimento de vínculos afetivos.


Temas como desconfiança são recorrentes, porém é importante analisar se ela é situacional (um evento específico - neurose), ou se ela é constante (alerta permanente - psicose). Partindo do ponto de vista psicanalítico, a neurose é decorrente de tentativas ineficazes do ego lidar com conflitos e traumas inconscientes, o que acaba limitando as respostas do indivíduo quando encontra-se frente à eventos que geraram ou que lembram os traumas. Exemplo: Fui traída pelo meu ex esposo, logo tenho dificuldades de me relacionar novamente com um outro homem porque tenho medo de novamente ser traída - dificuldade em confiar.


É importante analisar a origem da desconfiança, compreender os motivos que sustentam o medo de se entregar, para então elaborar os traumas que a sustentam e construir novas formas de se relacionar. Ás vezes o sentimento que sustenta a desconfiança pode se confundir com o medo de ser "abandonado", com o medo de se frustrar com relação ao outro, com o medo de entrar em contato com sentimentos de inferioridade... 


Porém, não somente devido a formação de um trauma inconsciente, a desconfiança pode ter um motivo real também e isso ocorre quando existem evidências de que o outro não demonstra comprometimento com a relação, ou que não age de acordo com o que fala, quando ele não respeita você e a própria relação...


Saindo do campo da origem das neuroses e dos processos inconscientes, vemos que a desconfiança pode ter relação com o modo como o indivíduo se coloca em um relacionamento. Você já analisou como se configura esta relação onde existe a desconfiança da sua parte? Não? Que tal fazer isso para identificar o que é real e o que é "neurótico" e se reajustar conforme as suas descobertas?


*Você sabia que a desconfiança pode ser originada pela dificuldade de colocar limites?

Quando somos muito permissivos em nossos relacionamentos, e passamos a aceitar todo e qualquer comportamento do outro embora este nos afete negativamente, estamos enviando as seguintes mensagens à ele e à relação: "Eu permito que você ultrapasse os meus limites/ Você é mais importante que eu nessa relação/ Eu aceito me prejudicar para vê-lo satisfeito com aquilo que você quer".


Logo, ao sermos permissivos acabamos nos desrespeitando, e o outro indivíduo envolvido na relação indiretamente também passará a nos desrespeitar, pois se eu permiti que ele fizesse determinada situação, ele entenderá que está tudo bem em continuar reproduzindo esta situação, e a tendência é de ampliar os seus direitos a ponto de conseguir controlar você. Exemplo: Eu permiti que o meu funcionário chegasse atrasado nos dias em que tem prova na faculdade. Contudo essa permissão prejudica o funcionamento da empresa, e tenho percebido que ele agora está se atrasando todos os dias sob a justificativa das várias atividades que tem que fazer na faculdade. Como vou confiar nele?


Bem, neste caso fica evidente que a dificuldade de confiar é proporcional à dificuldade de colocar limites na relação, e que esta pode ter uma origem no medo de desagradar (que é assunto para outro post). Uma vez identificada a origem da desconfiança fica mais claro a possibilidade de modificar a situação, de perceber a minha responsabilidade neste processo e definir estratégias parareestruturar a relação.



Portanto, se questione, separe um tempo para se analisar e observar quais sentimentos tem contribuído para o desenvolvimento de comportamentos negativos, e assim, poder ajusta-los. Um psicólogo clínico é o profissional capacitado para lhe auxiliar nesta busca pelo autoconhecimento, e por uma melhor qualidade de vida.

terça-feira, 4 de outubro de 2016

Como é a sua solidão?

Você consegue responder a estar pergunta? Se consegue, certamente você já parou para se questionar sobre isso, caso não consiga, é muito provável que você não tem se dedicado no processo de se conhecer. O autoconhecimento é como uma bússola, ele nos orienta através do ponto em que estamos, nos faz perceber por onde podemos andar para chegarmos no nosso objetivo, e por onde devemos evitar passar para não nos perdermos. Contudo, como todo instrumento de orientação, é fundamental que saibamos utiliza-la.

Um começo positivo na busca do autoconhecimento é analisar como estão os nossos relacionamentos (família, amigos, cônjuge...). A forma como as pessoas interagem com a gente nos permite verificar como estamos nos posicionando nessas relações: se estamos determinando limites, se a nossa comunicação verbal está condizente com as nossas ações, quais as nossas expectativas em cada relação, e também quais os sentimentos presentes em cada uma delas.

Porém, algumas situações podem se tornar difíceis de serem analisadas por nós mesmos porque as emoções e os sentimentos pertencentes nelas podem nos limitar. Ás vezes, sentimos tanta tristeza ao pensarmos em alguém que não conseguimos visualizar o motivo da tristeza, a origem deste sentimento, qual a nossa responsabilidade nele e o que podemos fazer para elaborarmos a situação.

A solidão é um exemplo disso. Às vezes nos sentimos sozinhos e até nos queixamos por isso. Temos a sensação que não há ninguém por perto para nos ouvir, para nos auxiliar ou acolher. Associada à tristeza vem o sentimento de frustração, pois criamos expectativas sobre o outro: depositamos nele a responsabilidade de mandar para longe a nossa solidão, contudo, o outro por desconhecer esse fato ou por não ter condições de nos auxiliar, acaba desempenhando o papel de vilão. E nós, vítimas da vida.

Nesse contexto é importante questionarmos:
*Qual a evidência que eu tenho de que realmente estou sozinha?
*Por que acredito que estou sozinha?
*O que tenho feito para manter meu circulo de amigos e familiares?
*Como estou transmitindo a mensagem de que preciso ser acolhida?

Após identificarmos as nossas crenças a respeito do nosso sentimento de solidão, então é o momento de pensarmos o que podemos e queremos fazer para modificar a nossa realidade (modificar a nossa percepção sobre nós mesmos, transformar os papéis negativos que desempenhamos por papéis positivos e que fortalecem a nossa interação social, ir contra antigos padrões comportamentais, pedir ajuda...).


Saiba que o psicólogo clínico é o profissional capacitado para lhe auxiliar a identificar a origem dos seus sentimentos. Além disso, ele conseguirá lhe auxiliar na busca de autoconhecimento contribuindo para que você  compreenda os seus relacionamentos, se conheça melhor, transforme a sua forma de se relacionar e modifique a sua realidade dentro do que lhe é permitido.