quinta-feira, 23 de março de 2017

Solidão e vazio existencial: você foge ou enfrenta?

O contato com o outro, as interações sociais, a construção de vínculos afetivos são formas que encontramos para conhecer o mundo do outro, compartilhar experiências, nos sentirmos inclusos e pertencentes em um espaço que já é povoado por um outro alguém. As relações quando são saudáveis proporcionam o desenvolvimento de diversas habilidades sociais: comunicação, empatia, afetividade… Porém, quando estes contatos se tornam em excesso a ponto de não permitir um momento de individualidade, podem ir além do objetivo de desenvolver tais habilidades e construir vínculos saudáveis, eles podem representar fugas para evitar entrar em contato com as sensações causadas por estar sozinho, já que estar sozinho é geralmente considerado sinônimo de solidão.
A solidão está associada a sofrimento; as músicas, as novelas, os filmes geralmente mostram o lado doloroso de se estar só, apresentam um indivíduo abandonado ou rejeitado, que se sente “vazio”, e que não consegue viver em um determinado momento sozinho, buscando desta forma relações para se preencher; relações estas que muitas vezes são destrutivas; ou ainda, investindo em relacionamentos onde não há reciprocidade no desejo comum de querer estar juntos.
Na psicologia a solidão é representada pelo sofrimento devido a ausência de algo ou de alguém, é como se ela fosse simbolizada por uma falta, ou um “não ter”. Ou seja, a solidão não corresponde necessariamente a ausência de pessoas, mas sim a um estado ou a uma percepção de falta que pode ser sentida até mesmo no convívio com outras pessoas. Isto ocorre quando o indivíduo encontra-se insatisfeito consigo, criando uma expectativa de felicidade que é depositada em uma pessoa específica ou em um modelo de relacionamento que ele considera ideal para suprir as suas carências.
Isto acontece frequentemente com pessoas que tem dificuldades de se experimentar sozinhas, que possuem carências afetivas e tentam supri-las através das relações. E, sempre que se vêem sozinhas ou diante da possibilidade de se experimentarem a sós, se angustiam e ou se deprimem, podendo tanto se isolar em seu mundo de ausências, ou ainda, partir numa busca desenfreada por programas e contatos para evitar o risco de se verem sozinhas, bem como para preencher o vazio existencial.
Ás vezes é possível perceber pessoas que sofrem investindo em relacionamentos tóxicos ou onde não são correspondidas porque não consideram a possibilidade de se reconstruírem sozinhas com maiores e melhores possibilidades de se viver.
Por isso é tão importante fazer uma auto análise: quais os meus pensamentos e sentimentos quando me percebo sozinha (o)? Gosto da minha própria companhia? Será que eu realmente aprendi a ficar sozinha (o) e a gostar da minha própria companhia? Do que eu estou fugindo?
Um método saudável para aprender a ficar sozinha (o) sem sentir a tristeza da solidão é, se experimentar sozinha (o), enfrentar os medos que esta situação traz para assim desconstruir crenças negativas que até então impediram este contato consigo, e deste modo, construir novas formas de se satisfazer na própria companhia, sem necessitar depender da presença de outras pessoas. Utilizar do que se tem no momento de modo a se beneficiar é também uma estratégia importante para o enfrentamento do medo de se sentir só: ouvir músicas que despertam sentimentos de encorajamento, fazer uma comida que lhe agrada, organizar algo que é sempre postergado, assistir a um filme, dançar, fazer um jardim… Em fim, se escutar e atender as próprias necessidades dentro das condições que se tem no momento é uma forma madura e realista de se viver. Não fuja das suas dores, dê atenção à elas, somente assim você poderá elaborar as suas carências e fechar os seus vazios existenciais.
Saiba que o psicólogo clínico é o profissional capacitado para lhe auxiliar a identificar a origem dos seus sentimentos. Além disso, ele conseguirá lhe auxiliar na busca de autoconhecimento contribuindo para que você  compreenda os seus relacionamentos, se conheça melhor, transforme a sua forma de se relacionar e modifique a sua realidade dentro do que lhe é permitido.

quarta-feira, 15 de março de 2017

Você se permite ser feliz?

Abraham Maslow, psicólogo americano; muito conhecido pelo desenvolvimento da teoria das necessidades; disse que todo indivíduo busca sempre melhorias para a sua vida, e que assim que satisfaz uma necessidade, ele automaticamente identifica outras necessidades para então, quando saudável, partir em busca de satisfazê-las.
Esta pulsão de vida é a motivação que nos faz buscar constantemente viver momentos de excitação, alegria, entrega e espontaneidade. Quando desejamos encontrar um novo emprego, firmar uma parceria, construir amizades sinceras, nos envolver em relacionamentos onde há reciprocidade, automaticamente estamos buscando satisfazer necessidades que caso não sejam supridas, poderão gerar insatisfações. Quando realizamos um desejo, por mais básico que ele seja, entramos em contato com a sensação de satisfação, que se manifestará de diversas formas, podendo gerar euforia, gratidão, relaxamento, excitação… Este é o momento que sem dúvidas podemos desfrutar da conquista, descansar da corrida e reconhecer a importância do esforço investido na concretização do desejo.
Porém, algumas pessoas possuem dificuldade em desfrutar destes momentos, geralmente se boicotam a não viver-los. Quando estão prestes a concretizar o que tanto buscavam, recuam, desistem ou criam situações que impedem a satisfação das suas necessidades. Estas pessoas em resumo, se boicotam.
Isto acontece quando condições no passado deste indivíduo contribuíram para que ele acreditasse que não era merecedor das sensações que a satisfação das suas necessidades trazem, ou ainda, que não conseguiria concretizar os seus desejos. E mais, quando devido ao medo de se frustrar e perder o que tanto quer, evita se sentir feliz, optando por manter-se com as sensações que embora desconfortáveis, já são conhecidas para ele, e portanto, não trarão sofrimento caso as perca.
O comportamento de auto boicote faz parte de uma estrutura de personalidade que possui um traço masoquista, pois como julga não ser merecedor das alegrias, o indivíduo as evita e consequentemente busca no sofrimento o sentido da sua vida. Provavelmente você já conheceu alguém que se queixava por não conseguir realizar um desejo porque acreditava que não era capaz, e ou, que não tinha condições de concretizá-lo, e ainda, quando as oportunidades de realizar o que ele tanto queria apareciam, ele simplesmente não valorizava o momento, e o transformava em reclamações, descontentamento, pessimismo, se tornando alguém desagradável para se conviver. O indivíduo que possui um traço de caráter do tipo masoquista é alguém que aprendeu a não se permitir se sentir feliz, e que possui uma  baixa auto estima como reforçadora da crença negativa de que não merece usufruir da sensação de tranquilidade que somente a satisfação daquilo que se quer proporciona.
Por isso é tão importante avaliarmos os nossos esforços diante aquilo que queremos conquistar, porque é através da reflexão sobre o quanto e como estamos investindo na nossa felicidade que compreenderemos se estamos realmente buscando o que nos satisfaz ou, se estamos nos boicotando.
Se em algum momento da sua vida você identificar que não está usufruindo de um momento devido ao medo de que ele acabe, se certifique dele estar sendo positivo para você naquele momento, pois, é nele que você está. Se boicotar para não sofrer é antecipar uma dor que pode nem vir a existir. Assim, reflita sobre como você quer se sentir, e se a resposta for: feliz, reveja o que você está fazendo para isso e se esta busca tem valido a pena uma vez que você não se permite celebrar a sua conquista.